sábado, 8 de outubro de 2011

Para escapar do ciúme.

        Para a psicóloga Sílvia Colameo, a primeira coisa que você deve fazer para brigar menos com os seus irmãos é ter em mente que o ciúme é uma coisa normal, que acontece com todos. Você tem ciúme dele e ele tem ciúme de você. Sabendo disso, tudo fica mais fácil. Colameo destaca algumas atitudes que você poderia tomar para tornar a convivência melhor.

·         Nunca se compare com seu irmão. Você, com certeza, é melhor em algumas coisas e ele em outras. Reconheça seu próprio valor e o dele também.

·         Lembre-se de que conforme vamos ficando mais velhos vamos adquirindo direitos e deveres. Por isso, os mais velhos, às vezes, podem mais do que os mais novos, mas isso é um processo natural, que todo mundo vai conquistando. 

·         Compreenda que seus pais não têm preferências entre você e seus irmãos. O que eles podem ter é afinidades: com um gosta de futebol, com outro gosta de ir ao shopping, etc. 

·         Lembre-se que muitas vezes é muito fácil não assumir as nossas dificuldades e jogá-las para cima dos outros. Você diz “minha mãe só dá razão para o mais novo”, mas será que ele não tinha razão mesmo? 

·         Aceite o sucesso do seu irmão e, se possível, torça por ele. Você também terá seus momentos de sucesso e vai ser gostoso ver seu irmão torcendo e ficando feliz por você.
Revista Zá, n. 7, fevereiro 1997, p. 61.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O tempo e a liberdade

Uma vez aconteceu que iam falando das vantagens da riqueza.
- Valem muito os bens da fortuna, dizia Estácio; eles dão a maior felicidade da terra, que é a independência absoluta. Nunca experimentei a necessidade; mas imagino que o pior que há nela não é a privação de alguns apetites ou desejos, de sua natureza transitórios, mas sim essa escravidão moral que submete o homem aos outros homens.
A riqueza compra até o tempo, que é o mais precioso e fugitivo bem que nos coube. Vê aquele preto que ali está? Para fazer o mesmo trajeto que nós, terá de gastar, a pé, mais uma hora ou quase.
O preto de quem Estácio falara, estava sentado no capim, descascando uma laranja, enquanto a primeira das duas mulas que conduzia, olhava filosoficamente para ele. O preto não atendia aos dous cavaleiros que se aproximavam. Ia esburgando a fruta e deitando pedaços de casca ao focinho do animal, que fazia apenas um movimento de cabeça, com o que parecia alegrá-lo infinitamente.
Era homem de cerca de quarenta anos; ao parecer, escravo. As roupas eram rafadas; o chapéu que lhe cobria a cabeça, tinha já uma cor inverossímil. No entanto, o rosto exprimia a plenitude da satisfação; em todo caso, a serenidade do espírito.
Helena relanceou os olhos ao quadro que o irmão lhe mostrara. A passarem por ele, o preto tirou respeitosamente o chapéu e continuou na mesma posição e ocupação que dantes.
- Tem razão, disse Helena: aquele homem gastará muito mais tempo do que nós em caminhar. Mas não é isto uma simples questão de ponto de vista? A rigor, o tempo corre do mesmo modo, que o esperdicemos, quer o economizemos. O essencial não é fazer muito cousa no menor prazo; é fazer muita cousa aprazível e útil.
Para aquele preto o mais aprazível é, talvez, esse mesmo caminhar a pé que lhe alongará a jornada, e lhe fará esquecer o cativeiro, se é cativo. É uma hora de pura liberdade.

Machado de Assis em “Helena” – Livraria Garnier, Rio de Janeiro, p.49-50.

sábado, 16 de julho de 2011

O Homem Nu


Fernando Sabino

Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa.  Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém.   Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.  Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares...  Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não!  — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar.  Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador.  Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer?  Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso.  — Imagine que eu...
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
— Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
— Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
— É um tarado!
— Olha, que horror!
— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.

Texto retirado da página: http://www.releituras.com/fsabino_homemnu.asp.

domingo, 10 de julho de 2011

Sobre a Vírgula



Segue texto de campanha da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), que reforça o valor da vírgula. Boa leitura!


Vírgula pode ser uma pausa... ou não.

Não, espere.

Não espere.


Ela pode sumir com seu dinheiro.

23,4.

2,34.


Pode ser autoritária.

Aceito, obrigado.

Aceito obrigado.


Pode criar heróis.

Isso só, ele resolve.

Isso só ele resolve.


E vilões.

Esse, juiz, é corrupto.

Esse juiz é corrupto.


Ela pode ser a solução.

Vamos perder, nada foi resolvido.

Vamos perder nada, foi resolvido.


A vírgula muda uma opinião.

Não queremos saber.

Não, queremos saber.


Uma vírgula muda tudo.


ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação
Detalhes Adicionais
SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.

Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER.
Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A borboleta preta

No dia seguinte, como eu estivesse a preparar-me para descer, entrou no meu quarto uma borboleta, tão negra como a outra, e muito maior do que ela. Lembrou-me o caso da véspera, e ri-me; entrei logo a pensar na filha de Dona Eusébia, no susto que tivera, e na dignidade que, apesar dele, soube conservar. A borboleta, depois de esvoaçar muito em torno de mim, pousou-me na testa. Sacudi-a, ela foi pousar na vidraça; e, porque eu sacudisse de novo, saiu dali e veio parar em cima de um velho retrato de meu pai. Era negra como a noite. O gesto brando com que, uma vez posta, começou a mover as asas, tinha um certo ar escarninho, que me aborreceu muito. Dei de ombros, saí do quarto; mas tornando lá, minutos depois, e achando-a ainda no mesmo logar, senti um repelão dos nervos, lancei mão de uma toalha, bati-lhe e ela caiu.
                 
Não caiu morta; ainda torcia o corpo e movia as farpinhas da cabeça. Apiedei-me; tomei-a na palma da mão e fui depô-la no peitoril da janela. Era tarde; a infeliz expirou dentro de alguns segundos. Fiquei um pouco aborrecido, incomodado.
                
-- Também por que diabo não era ela azul? disse eu comigo.
                 
E esta reflexão, -- uma das mais profundas que se tem feito, desde a invenção das borboletas,-- me consolou do malefício, e me reconciliou comigo mesmo. Deixei-me estar a contemplar o cadáver, com alguma simpatia, confesso. Imaginei que ela saíra do mato, almoçada e feliz. A manhã era linda. Veio por ali fora, modesta e negra, espairecendo as suas borboletices, sob a vasta cúpula de um céu azul, que é sempre azul, para todas as asas. Passa pela minha janela, entra e dá comigo. Suponho que nunca teria visto um homem; não sabia, portanto, o que era o homem; descreveu infinitas voltas em torno do meu corpo, e viu que me movia, que tinha olhos, braços, pernas, um ar divino, uma estatura colossal. Então disse consigo: «Este é provavelmente o inventor das borboletas». A idéa subjugou-a, aterrou-a; mas o medo, que é também sugestivo, insinuou-lhe que o melhor modo de agradar ao seu creador era beijá-lo na testa, e beijou-me na testa. Quando enxotada por mim, foi pousar na vidraça, viu dali o retrato de meu pai, e não é impossível que descobrisse meia verdade, a saber, que estava ali o pai do inventor das borboletas, e voou a pedir-lhe misericórdia.
                 
Pois um golpe de toalha rematou a aventura. Não lhe valeu a imensidade azul, nem a alegria das flores, nem a pompa das folhas verdes, contra uma toalha de rosto, dous palmos de linho cru. Vejam como é bom ser superior às borboletas! Porque, é justo dizê-lo, se ela fosse azul, ou cor de laranja, não teria mais segura a vida; não era impossível que eu a atravessasse com um alfinete, para recreio dos olhos. Não era. Esta última idéa restituiu-me a consolação; uni o dedo grande ao polegar, despedi um piparote e o cadáver caiu no jardim. Era tempo; aí vinham já as próvidas formigas... Não, volto à primeira idéa; creio que para ela era melhor ter nascido azul. 

Fonte:
Assis. Machado de. A borboleta preta. In: Memórias Póstumas de Brás Cubas. Disponível em: http://www.ibiblio.org/ml/libri/a/AssisJMM_MemoriasPostumas/node34.html. Acesso em: 08/06/11.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Parabéns, Fábio!

Hoje é o aniversário de um aluno muito especial, interessado e estudioso!!
Fábio, parabéns pelo seu dia e pelo seu desempenho!!
Muito sucesso!! Beijo da tia e de toda Aloha!!

sábado, 2 de abril de 2011

Breve histórico da Língua Brasileira de Sinais


Ano após ano, os surdos têm conquistado seu espaço. Na última década, sua luta colheu frutos vitoriosos na legislação, mas ainda falta muito para que este sonho se torne realidade

É crescente o número de leis que buscam oportunizar a educação de pessoas com necessidades especiais. No entanto, essas mesmas leis que buscam levar a igualdade de ensino para uns, pode modificar profundamente a vida daqueles que, desde sempre, são os detentores das ofertas educacionais deste país.
Para que este quadro possa modificar-se, a luta dos portadores de necessidades especiais tem sido gigantesca e, nos últimos anos, já se observa os frutos dessa batalha. Grandes guerreiros dentre estes têm sido as pessoas surdas que, por suas limitações, sofrem com as poucas oportunidades de estudo e de trabalho.
A utilização das LIBRAS, por sua vez, facilita o acesso dessas pessoas aos ambientes que antes eram restritos apenas aos ouvintes. Desde os primórdios, a utilização da língua de sinais foi motivo de polêmicas. Algumas pessoas criticavam seu uso argumentando que aquela prática seria prejudicial ao surdo e que este deveria mesmo ser oralizado para que pudesse ser inserido na comunidade geral. Dessa forma, a ideia predominante era a de que a minoria surda deveria adaptar seus costumes aos costumes da maioria ouvinte.
Porém, algumas pessoas não concordavam com esta ideia, a exemplo de Abade Charles Michel de L’Epée, que na França do séc. XVIII, foi um reconhecido educador de surdos que obteve imenso sucesso utilizando a língua de sinais como a única forma de comunicação entre surdos.
Para tanto, L’Epée criou os “Sinais Metódicos”, uma combinação da língua de sinais com a gramática sinalizada francesa. Suas idéias, mesmo muito criticadas, ganharam forças e, anos depois, seus sinais fundamentaram a criação da Língua Brasileira de Sinais.
Quem trouxe esses fundamentos da França para o Brasil foi o professor francês Hernest Heut. Sua presença e seu trabalho no Brasil acelerou a utilização da língua de sinais nas escolas e, em 1857, foi fundado o Instituto Nacional dos Surdos, no Rio de Janeiro.
Porém, em 1957, foi oficialmente proibida a língua de sinais em sala de aula e seu uso só retornaria com mais força na década de 1980 com o bilinguismo.
Atualmente, algumas leis regulamentam a utilização da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). A começar pelo ano 2000, a partir da homologação da Lei de Acessibilidade, tornaram-se mais frequentes os cursos de capacitação em língua de sinais.
Outra forma legal a favor das LIBRAS concretizou-se em 2005, com a regulamentação do Decreto nº 5.626, que dispôs sobre a inclusão das LIBRAS como disciplina curricular dos cursos de formação de professores. Esse meio legal foi e está sendo muito importante porque tem possibilitado, de fato, o acesso da pessoa surda à educação.
Já em 2008, foi regulamentado, através do Decreto nº 6.571, o atendimento educacional especializado que objetiva prover condições de acesso ao ensino regular das pessoas portadoras de necessidades especiais. A acessibilidade, a possibilidade de estudo em ensino regular deverá ser uma realidade em todas as instituições de ensino do Brasil. Agora, a maioria irá se adaptar à minoria. Resta aos profissionais da educação o preparo, a dedicação aos novos princípios educacionais.

Fonte:
GOLDFELD, Márcia. Breve relato sobre a educação de surdos. In: A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. São Paulo: Plexus, 2001.